SEJAM BEM VINDOS !

BEM VINDOS!

O blog da Escola Municipal Pedro de Souza, tem como objetivo expressar os acontecimentos do nosso dia a dia,sejam dos mais simples aos de grande importância.

" O ESTUDO É A LUZ DA VIDA!

ACESSE O JORNAL PROINFO PEDRO DE SOUZA
http://www.wikijornal.com/proinfo

EMAIL - esc.pedrodesouza@hotmail.com.br

Pesquisar este blog

MAPA

sábado, 23 de julho de 2011

Poesia do Poeta Professor Dorge Tabosa!


SOU REAL

Dorge Tabosa

O Brasil, país tão lindo
Eu sempre quis conhecer
Meu espírito de andarilho
Eu nunca pude conter
Só que andar sem dinheiro
É querer e não poder

Viajar é o meu lazer
Meu programa preferido
Conhecer vários lugares
Também ficar conhecido
Isso só se eu soubesse
Fazer dinheiro escondido

Esse meu sonho incontido
Deixou-me de mente cheia
Fazer dinheiro e gastar
Em praia,hotel e aldeia
Também podendo morrer
Preso,infeliz na cadeia

Essa centelha incendeia
Meu juízo noite e dia
Acordado eu só pensava
Ia dormir,não dormia
Dinheiro pra viajar
Era o que eu mais queria...

Noite em claro raia o dia
Fiz promessa,orei,rezei
Por estar obcecado
Só por dinheiro clamei
Caí num sono profundo
E nesse sono,sonhei

Deus me dando o que sonhei
Um cartão de andarilho
Dinheiro que era o problema
Acabou-se o empecilho
Não fez pra o filho dinheiro
Mais fez dinheiro seu filho

Me vi correndo num trilho
Pegado com irmãos meus
Centenas,depois milhares
Eu era assim,vários eus...
Senti que era castigo
Não se pede assim a deus

Separei dos irmãos meus
Não eram clones os tais
Todos com número de série
No resto, éramos iguais
Marca d’água , com bandeira
E outros detalhes mais.

Éramos todos reais
Só não me agradou a cor
(se fôssemos americanos
Teríamos maior valor),
Ao invés de presidente
A foto de um beija-flor

Tínhamos o menor valor
Da cédula nacional
E da casa da moeda
Fomos pro banco central
De lá, para um banco público
Na capital federal

O meu nome é 1 real
Estou pronto pra missão
Como sempre quis, eu vou
Viajar pela nação
De norte a sul do país
Passando de mão em mão

Do banco,eu caí na mão
De uma velha aposentada
Que já saiu reclamando:
Eita notinha safada!
Tão nova,tão bonitinha
Mais num vale quase nada...

Passei pra mão da empregada
Que cuidava da velhinha
Que me pôs com muito zelo
Dentro da sua calcinha
Má sorte tive com a velha
Mas a sorte agora é minha

Ela estava suadinha
Fiquei suado também...
Com o tempo aquele cheiro
Não cheirava muito bem
Cheirei tanto que hoje eu acho
O cheiro melhor que tem

Nunca mais achei alguém
Que como ela me tratou
Que me colocou nos seios
E até me amassou
Que fez o que quis comigo
E quando quis,me dobrou

Porém ela me trocou
Num estojo de barbear
Nas mãos de um camelô
Sem querer,eu fui parar
Me deu inveja do estojo
Sabendo que ela ia usar...

Do camelô fui parar
No Paraguai,ilegal
Fui gorjeta pra laranja
Fui rasgado,passei mal
Um muambeiro levou-me
Pra cidade de natal

Não era o meu final
Venci mais uma peleja
No culto eu fui oferta
Mas o pastor esbraveja:
Por que só tinha verdinha
Na coleta da igreja

Depois de amém e assim seja
Levaram-me para um trem
Depois mais sacos e malas
Juntaram-se a nós também
Amigos de cinco e dez,
Vinte cinquenta e até cem!

As de cinquenta e de cem
Fizeram uma tal lavagem
Eu não entendi direito
O que dizia a linguagem
Passei de trem pra avião
Segui a minha viagem

Em Manaus aterrissagem
Fui troco em vários hotéis
Trocaram-me por cerveja
Visitei vários bordeis
De ônibus fui para sampa
No meio de outros papeis

Nas mãos de donos cruéis
Por maconha fui trocado
Fizeram-me de bolinha
Num bingo fui apostado
Meu fim estava chegando
Sujo,infecto e rasgado

De graxa todo melado
Remendo de fita preta
Palavrões em frente e verso
Prece escrita na caneta
E a dor maior quando fui
Rejeitado de gorjeta

Sentindo-me na sarjeta
Velho e esculhambado
No bolso de um pobre dono
(como eu,tão desprezado)
Ele,um coitado homem
Eu,um dinheiro coitado

Num barraco destelhado
Segue a minha agonia,
Trocado por poucos pães
Num caixa de padaria
Do barraco e da família
Fui a última quantia

Na tarde do outro dia
Outra vez fui rejeitado
No troco da padaria
Pelo freguês recusado,
Na falta de um real novo
Fiquei um real fiado

Pelo meu dono doado
Pra um mendigo da praça
O mendigo que era cego,
Não gostou nem achou graça
- sou cego,mas não sou doido
Pra que quero essa desgraça?

Mais humilhação na praça
Com o cego a reclamar
No mercado ninguém quer
Feira,livraria ou bar,
´´isso não presta nem mesmo
Para o cego se limpar``.

Real sem dono e sem lar
Parecendo um cão sarnento
Abandonado por todos
Vivendo o pior momento
No meio dos papelões
Exposto ao sol e ao vento

Cheirou-me um cão sarnento
Procurando sua cama
Contei meu drama pra ele
Ele me contou seu drama
Dois infelizes no mundo
Num mundo de dor e lama

Ainda servi de cama
No seu momento final
Morreu o cão e eu também
Me esfacelei por total
Dei vida a quem tem vida
Fiz irreal o real

De volta ao mundo real
Com real na ficção
O cordelista viaja
(com real no bolso ou não)
E esse cordel só custa
1 real por tradição.

Nenhum comentário:

Postar um comentário